segunda-feira, 31 de março de 2008

Critério "Homer Simpson" de Noticiabilidade



Dando seqüência à minha busca sobre o que significa Jornalismo Solidário, me deparei com a questão: como as notícias viram notícias?

Os critérios de noticiabilidade que aprendemos na faculdade são, definitivamente, diferentes do que ocorrem no dia-a-dia de uma redação. Reconheço a dificuldade de se enumerar critérios de noticiabilidade como em uma receita de bolo, mas, é possível seguir regras que são importantes na decisão do que será notícia.

A principal delas é a ética como norteadora da profissão de jornalista. Porém, com a pressão do tempo (creio que as redações sejam como pastelarias) e a concorrência (de outros veículos e de outros profissionais) fica difícil pesquisar e apurar o tema com a profundidade necessária. E, em resumo: vira notícia o que os editores acham que deve ser notícia.

Pesquisando sobre o assunto, me deparei com uma pérola do nosso querido e diário Willian Bonner, editor chefe e apresentador do Jornal Nacional, da Rede Globo. Segundo o relato, Bonner realiza diariamente uma reunião com os editores de outros estados em que é definida a pauta do dia. Até então, tudo normal. O que impressiona é como ele se refere aos telespectadores do jornal. Ele define o brasileiro médio, maioria da audiência do jornal como Homer Simpson.

E é com essa idéia de telespectador que ele determina o que será notícia no dia ou o que será gongado do jornal.

Então, posso crer que, para a Rede Globo, os critérios de noticiabilidade mudam de acordo com a audiência. Nenhuma novidade.

A resposta de Bonner ?? Ele disse que não pensa no Homer Simpson apenas como um preguiçoso comedor de rosquinhas, mas como um chefe de família trabalhador (!!) .

Questão de opinião.

Enquanto isso, a maioria do povo brasileiro engole o que é noticiado pelo JN como rosquinhas, e notícias importantes deixam de ser noticiadas, pelo menos pela mídia grande.

Salve a mídia independente que não subestima a inteligência do brasileiro, noticiando o que é notícia. Mas como são os critérios de noticiabilidade da mídia independente?? Questão para um próximo post.

Confira a íntegra do texto e a resposta de Bonner

quarta-feira, 26 de março de 2008

Merece a leitura!

Recebi este texto do correio da Caros Amigos. Opine no fórum da revista.

Cem Marias para cada Madeleine
por Natalia Viana

Esse texto poderia começar de muitos jeitos, mas acho que o melhor é começar pelo sábado, 26 de janeiro de 2008. Eu, sentada ao lado do editor do jornal britânico Independent, onde trabalhei durante alguns meses, anunciava minha saída e aproveitava para perguntar se a eles interessariam reportagens free-lancer sobre a América do Sul, que eu poderia fazer quando voltasse. A resposta:

- Olha, ainda vale a velha regra: mil peruanos equivalem a 10 franceses. Então é assim, se tiver um acidente, um desastre muito grande...

A frase não me surpreendeu. Não foram poucas às vezes, ao longo desse ano e meio vivendo em Londres, em que ouvi jornalistas me dizendo claramente que à imprensa inglesa não interessa a América Latina. Mas ela apontou para uma coisa seriíssima que está acontecendo com o nosso próprio jornalismo internacional. Explico.

Com a falta de dinheiro na maioria das empresas de mídia no Brasil, e ao mesmo tempo com o advento da internet e dos canais de notícias 24 horas, a notícia internacional, se antes era mercadoria, agora virou mercadoria baratíssima.

Para preencher tanto espaço em branco, em tão pouco tempo, os veículos optaram pelos serviços das agências internacionais, um punhado de empresas – todas sediadas em países ricos – que dizem ao mundo todo o que é notícia e o que não é. Assim, a Reuters, de origem alemã e sede em Londres, a CNN americana, a AFP francesa, a BBC inglesa – financiada, não por acaso, pelo Ministério do Exterior britânico – difundem a sua visão de mundo, a sua própria cultura e o seu jeito de fazer jornalismo.

Não é negativo o advento das agências de notícias. É fantástico poder ter informações rápidas de vários cantos do globo com um grau razoável de confiabilidade. O problema é como o nosso jornalismo internacional tem cada vez mais se baseado apenas no que dizem essas agências.

Funciona assim: o repórter de uma agência escreve a matéria, entrevistando essa e aquela pessoa que considera relevante. Seu texto então é editado por alguém na sede, invariavelmente em um país do norte, e checado contra as informações de outra dessas agências. Se há um serviço em português, os redatores terão que simplesmente traduzir a notícia, e assim ela chega a nós.

Hoje, no caso do Brasil, é cada vez mais comum que as publicações diárias usem esses mesmos relatos, vindos de diferentes agências, para compor a reportagem que virá na edição do dia seguinte. O mesmo acontece com as revistas e com os canais de notícia da TV.

Há exemplos chocantes, como o fato de muitas informações que lemos sobre a América do Sul terem sido coletadas por repórteres americanos, ingleses, franceses, enviados para a Europa e traduzidas antes de serem reescritas para o nosso consumo. Estamos, na prática, terceirizando a nossa visão sobre o mundo.

Um dos tristes resultados desse novo modelo é a morte lenta e dolorosa da figura do nosso correspondente internacional. Há ainda ótimos correspondentes, claro, mas cada vez em menor número.

Os que ainda sonham testemunhar e reportar coisas significativas que acontecem no mundo têm que se contentar com um pagamento magríssimo. Em conseqüência, sou testemunha da explosão de novos tipos de jornalistas até então inéditos, como a correspondente-e-garçonete, correspondente-e-carregador-de-malas, correspondente-e-babá. Sendo, sempre, o subemprego o trabalho principal e o jornalismo quando se tem tempo.

É o colonialismo noticioso: embora a globalização tenha trazido melhores relações internacionais para o Brasil, com negócios, turismo, imigração, etc, estamos aceitando sempre a versão da história que nos está sendo contada pelas agências, condizente com a sua linha editorial, e, mais a fundo, com os seus preconceitos.

Um bom exemplo foi a avidez com que a imprensa brasileira acompanhou o sumiço da menina inglesa Madeleine MCcann, em Portugal, no ano passado. Por aqui, a cobertura foi obsessiva, pra pegar leve. A cada dia novos detalhes, na maioria infundados, apareciam e eram reproduzidos incessantemente por sites brasileiros, canais de TV e até jornais.

Engolimos sem refletir que, na balança das agências globais, a vida de uma linda menininha inglesa sempre vai valer mais do que cem Marias brasileiras.

Foi isso que me veio à cabeça ouvindo a resposta do colega do Independent. Antes de agradecê-lo pela honestidade – e ir embora com o rabinho entre as pernas – respondi:
- Claro, mil peruanos valem o mesmo que dez franceses, ou uma Madeleine.
Ao que ele consentiu com a cabeça e um sorriso sem-graça.


Natalia Viana é jornalista.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Procissão da Elite??

No último domingo (09/03) acompanhei a tradicional Procissão do Senhor do Passos, em Florianópolis.

Não tenho muita experiência em procissões, porém um fato me chamou atenção: a elitização do público. Os fiéis eram, em sua maioria, representantes da boa e velha classe média Florianopolitana.

Mas o mais desagradável, foi ver a politicagem reunida para carregar a imagem de Senhor dos Passos. Eram políticos conhecidos. Só para citar alguns, carregavam a imagem o Governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira, e o Prefeito de Florianópolis, Dário Berger, dentre outros que não consegui identificar, misturados aos vários seguranças.

Na frente da imagem, seguia um bloco de pessoas muito alinhadas, mulheres chiques com seus saltos "chanel" e homens de terno com corte perfeito.

Eu, que estava gravando os sons da procissão para um programa da disciplina de rádio, até que tentei humildemente gravar um relato de uma dessas “celebridades”, mas, é claro, não consegui nem chegar perto.

Minha pergunta para algum deles seria: “Senhor dos Passos guia os seus passos na política?”. Apesar de protestos do meu irmão que queria perguntar: “Vossa Excelência percebeu que está perpetuando a linhagem de Pilatus?”.

Que pena. Uma festa tão bonita, mas nada popular.

"Muita gente se arvora a ser Deus
E promete tanta coisa pro sertão
Que vai dar um vestido pra Maria
E promete um roçado pro João
Entra ano, sai ano, e nada vem
Meu sertão continua ao deus-dará
Mas se existe Jesus no firmamento
Cá na terra isto tem que se acabar"
Procissão - Gilberto Gil


Luiz Henrique e PC Farias na Procissão Senhor dos Passos??

Coisas que o povo diz

Ouví esses dias e tenho que concordar:
"Deveria existir um Procon só para punir jornalistas!"

A saga do Jornalismo Solidário - Parte I

Conversando com o Mosimann, meu professor de Mídia Digital III, sobre o assunto do meu blog,ele me deu a dica de procurar a definição de Jornalismo Solidário no mundo acadêmico do jornalismo.

Tentei, ou melhor, estou tentando, mas tenho que confessar que a tarefa é difícil.

Achei um texto interessante sobre o assunto no blog de uma professora de jornalismo da PUC de Poa, Bia Dornelles que juntamente com Osvaldo Biz escreveu o livro Jornalismo Solidário.

Concordo com Flávio Porcello, autor do texto postado no blog da Bia, que o comprometimento com a verdade e a apuração jornalística, são essenciais ao bom jornalista, além (é claro) de uma boa formação acadêmica. Ele cita o seguinte trecho do livro de Bia Dornelles: “Cidadania significa, também, ter capacidade de ler a Mídia e de questionar suas estratégias, de modo a não repetir pura e simplesmente o que ela conseguiu transformar em senso comum” (DORNELLES & BIZ, 2006:45).

Sim, concordo com os autores, mas creio que melhor seria se não tivéssemos a preocupação em ler “nas entrelinhas” o que realmente a mídia quer dizer.

O produto final ao consumidor deveria ser o mais puro possível, ou seja, a mídia deveria ser imparcial e comprometida com a verdade, sem segundas intenções.

Impossível? Talvez. Mas creio que isso seja jornalismo solidário. Já tenho um livro sobre o assunto para ler. A saga da definição continua...

segunda-feira, 10 de março de 2008

O início

Já é a quarta vez que tento fazer um blog e acho que agora acertei. Como dizem na publicidade "a primeira idéia é sempre a pior", então acho que estou no caminho correto.

Hoje, ouvindo rádio dentro do ônibus, escutei que a gigante Google vai lançar uma nova ferramenta para a criação de websites. Sobre a ferramenta eu nem ouvi direito, o que mais me chamou a atenção foi o fato de a locutora dizer que essa seria uma ferramenta de “jornalismo solidário”.

Peraí, só o fato de pessoas poderem compartilhar informações em um site não faz dele uma ferramenta solidária. Eis o ponto de partida do meu blog: o que é fazer um jornalismo solidário??

Nos dias de hoje, em que as informações são rapidamente disseminadas, é muito importante, eu diria essencial, que o jornalista se posicione e se comprometa em veicular somente o que for, no mínimo, muito bem apurado. Isso para mim é jornalismo solidário.

Neste blog, me proponho a pesquisar sobre o tema. Acho que não vai faltar assunto para manter o blog atualizado. Até mais!